sábado, agosto 05, 2006

A recepcionista entrou na minha sala e disse:

- Márcia, você que é bilíngüe venha atender esse senhor que está aqui na recepção porque eu não estou entendendo nada do que ele esta falando.

É engraçada a idéia que nós temos de nós mesmos perante algumas pessoas. Perto de algumas pessoas nos sentimos extremamente ignorantes e perto de outras o sujeito mais esperto da face da terra. E é engraçada também a idéia que algumas pessoas fazem da gente. Pra essa moça, por exemplo, eu sou bilíngüe só porque conheço o verbo to be, mas pra qualquer pessoa que conheça um pouquinho além do verbo to be, saca na hora que eu não falo nada de inglês.

Mas como não tem tu, vai tu mesmo, lá foi eu atender o sujeito. Na verdade eu fiquei tão apavorada que nem me lembrei de falar uma frase tão simples e que eu ouço constantemente nos filmes e na sala de aula como um can i help you? O rapaz quando me viu abriu um sorriso como se dissesse pra si mesmo ufa, ainda bem que achei alguém nessa terra pra me ajudar e eu retribui com o mesmo sorriso dizendo pra mim mesma putz, to ferrada porque não vou conseguir entender nada do que esse sujeito vai falar!

Era um cara franzino que falava baixinho e pausadamente. De certa forma essa característica dele tenha me deixado um pouco mais calma e dentro das minhas limitações eu consegui responder a todas as perguntas dele. Quando ele foi embora eu tive a impressão que ele saiu do escritório satisfeito e continuava sorrindo.

Talvez ele estivesse rindo do meu jeito meio atrapalhado tentando desenhar um mapa num pedaço de papel pra ele ou das minhas confusões com tempos verbais, do tipo nós fumo e depois vortemo, mas mesmo assim ainda acredito que ele tenha saído de lá satisfeito.

Foi a primeira vez que tive uma experiência como essa, de ter que me virar num outro idioma, sem ter alguém do meu lado pra me socorrer.

Mas quando ele foi embora eu já me sentia de fato uma verdadeira bilíngüe. Naquele momento eu poderia falar inglês até com a rainha da Inglaterra. Passei o dia desenvolvendo diálagos mentais com aquele rapaz e até respondi perguntas, que dentro daquele contexto, ele não precisava fazer. Naquele momento eu acreditava que se ele voltasse ali a gente poderia passar horas e horas conversando.

Eu tremia como uma vara verde, é verdade. Mas passei o dia inteiro acreditando que eu realmente era aquela pessoa que a recepcionista vê, quando olha mim :)