sexta-feira, maio 18, 2007



Eu já falei diversas vezes aqui o quanto eu me sinto incomodada por às vezes não me lembrar de algumas coisas. É sério, e talvez isso justifique o fato do meu maior medo na velhice não seja o de ficar com a bunda murcha ou os peitos caídos, mas sim, de ficar senil e um dia acordar e não me lembrar mais da pessoa que eu fui um dia. Ou olhar para o rosto das pessoas que eu amo e não reconhecer mais eles...

Mas confesso que me senti mais reconfortada depois que li isso aqui:



A nossa espécie tem fraca memória. Esquecemo-nos de quase tudo. Muitas vezes, por outro lado, julgamos lembrar-nos de coisas que nunca nos aconteceram. Coisas que lemos, que aconteceram a outros, ou que alguém nos contou.

Certos peixes esquecem-se de onde vieram no curto instante que levam a percorrer um aquário. O aquário é para eles, dessa forma, um espaço infinito, novo a cada instante, cheio de surpresas e de diversidade. Cada volta que dão parece-lhes uma experiência inédita. Conosco passa-se algo semelhante. A natureza criou o esquecimento para que nos seja possível suportar o terrível tédio deste minúsculo aquário a que chamamos vida.

José Eduardo Agualusa - Um Estranho em Goa

Bom fim de semana :)