quinta-feira, dezembro 07, 2006

Foi o pior emprego da minha vida.

Eu era o tipo mauricinho, mas comecei a trabalhar cedo. Trabalhava num banco de grande porte, num dos melhores bairros de São Paulo.

Todo o dia de manhã tomava meu banho, colocava uma roupa bacana e passava alguns bons minutos ajeitando o gel no meu cabelo. Minha mãe às vezes reclamava, dizendo que eu parecia uma noiva para sair de casa. Mas na verdade quando eu colocava meus pés na rua podia ser facilmente confundido com o Gianecchini.

Eu sempre almoçava nos melhores restaurantes da redondeza, graças é claro, ao gordo ticket refeição que a empresa me oferecia. Depois ainda sobrava um tempo para apreciar as garotas bonitinhas que circulavam por ali, olhando as vitrines de lojas famosas espalhadas pelo bairro.

Mas como tudo que é bom nessa vida um dia acaba, isso também acabou. É, perdi meu emprego.

Passaram-se dois, três, cinco meses e nada de aparecer um emprego novo. O dinheiro da rescisão estava diminuindo e a pilha de contas para pagar estava aumentando. E pra ajudar o Natal estava chegando...

No começo eu escolhia o emprego, mas no final das contas, foi ele quem me escolheu. Fui contratado temporariamente como vendedor de uma loja de roupas. Calça jeans para ser mais exato.

A minha vida virou do avesso. Pra começar, a loja ficava na Vila Brasilândia. E para piorar eu tinha que usar uma camiseta baby look, já que esse era o uniforme da loja. A camiseta era cor de burro quando foge, mas terrível mesmo era o logotipo da loja. Um caipira barrigudo segurando uma viola, bordado em alto relevo na manga.

A loja era bem grande, e por causa das festas de fim de ano, havia dezenas de vendedores. Logo no primeiro dia me ensinaram como as coisas funcionavam ali. Pra não ter briga entre os vendedores, os mesmos permaneciam em fila indiana, e cada vez que entrava um cliente na loja, o primeiro da fila tinha o direito de atendê-lo.

Tudo isso ao som da Banda Calipso, que tocava no Cd player das 8 da manhã às 10 da noite. Aquela fila era interminável pra mim, e quando finalmente chegava a minha vez o freguês sempre queria alguma coisa que não tinha na loja:

- Pufavô, vocês tem tênnis importado do Paraguai?

Ou então, queria só uma informação:

- Ô moço, onde fica a loja que vende rapadura?

A minha vontade era arrancar a viola daquele caipira bordado na manga e meter ela na cabeça do fulano. Mas eu pensava na pilha de contas que me esperava em casa para o jantar, e só respondia educadamente. Depois voltava para o fim da fila. O problema era seu se a venda não era concretizada.

Quando o freguês sabia o que queria, quem não entendia o pedido era eu.

- Eu quero uma calça de lycra branca, mas que não mostre o cofrinho!

Lycra!!?? Cofrinho!!?? ? Eu nunca na vida tinha ouvido essas palavras...

Entrar naquela fila era o inferno pra mim. E enquanto não chegava a minha vez, eu ficava ouvindo a conversa dos meus colegas de trabalho "Mano, quase levei uns pipoco quando fui acertar aquela parada lá!". Eu não sabia o que era pior. Ouvir isso ou as músicas da Banda Calipso.

Demorava, mas a hora do almoço finalmente chegava. E eu saia correndo para a cozinha da loja para comer minha marmita, isso é, quando não entrava água. Mas às vezes eu me dava ao luxo de almoçar um sanduíche grego, daquele bem gordurento.

Mas como tudo que é ruim nessa vida um dia passa, isso também passou. O mês terminou, ganhei uma graninha boa, suficiente para quitar minhas dívidas. No meu último dia de trabalho ainda sai com a rapaziada da loja para tomar uma cerva gelada.

Combinamos de nos encontrar outras vezes, mas até hoje isso não aconteceu. Não porque eu não queira, mas porque esse meu novo emprego consome todo meu tempo.

Não é nada fácil ser presidente do Fan Clube da Banda Calipso.