quinta-feira, novembro 16, 2006


Quando eu era criança, eu e a minha prima morríamos de medo de uma velha que morava perto da nossa casa. Ela era meio maluca e andava falando sozinha e diziam as más línguas que ela era macumbeira.

Quando a mulher apontava no começo da rua, a gente saia correndo pra dentro de casa. Na verdade eu corria para o quarto da minha mãe, fechava a janela e ficava olhando ela passar pela veneziana. Mas mesmo assim eu ainda morria de medo da mulher, porque como ela era macumbeira, eu acreditava que ela podia me enxergar ali, mesmo com a janela fechada.

O tempo passou, mas o trauma ficou e até hoje ainda tenho medo de véia doida. Pra ajudar tem uma que anda pelas ruas aqui perto do escritório. E o pior, essa anda armada!

Na verdade verdadeira não é bem uma arma que ela carrega, mas sim um tamanco de madeira. Mas quando ela está atacada, acredite, ela faz estragos com esse tamanco!!!

Num desses dias, a minha amiga passou perto dela, e ela arrancou o tamanco dos pés e tacou na pobre da moça. Sorte que pegou na perna dela, porque se tivesse pegado na cabeça é provável que ela nem estivesse mais aqui pra contar essa história...

O povo que conhece ela melhor, diz que esses ataques de loucura vêm quando ela não consegue entrar no forró risca faca que tem perto da casa dela. O problema é que o cabra que não aceita o convite dela pra dançar, toma uma tamancada na cara. Sem dó nem piedade. E quando ela apronta uma dessas no baile, o segurança barra a entrada dela nas próximas semanas.

Eu morro de medo dela, porque a mulher é doida de pedra! Um dia eu estava indo por uma calçada e quando vejo e ela que vinha na minha direção.

Eu achei desaforo ter que mudar de calçada pra não correr o risco de levar uma tamancada dela. Então respirei fundo e continuei andando e já disse pra mim mesma: "Se essa mulher me tacar um tamanco eu vou descer a mão na cara dela".

Mas quando eu estava chegando bem pertinho dela, me deu um medão, e eu tive que sair correndo. Atravessei a rua no meio dos carros e quase fui atropelada, mas não tive coragem de passar perto dela.

Mas também acho um absurdo uma mulher do meu tamanho morrer de medo e ainda sair correndo toda vez que encontra a véia do tamanco. Preciso tomar uma atitude que qualquer mulher madura teria se estivesse no meu lugar.

Vou hoje mesmo comprar um tamanco !





domingo, novembro 12, 2006

Uma vez eu contei aqui o causo da minha amiga que depois de ter o carro roubado por três vezes, na última resolveu imitar que estava recebendo uma preta véia pra enganar o bandido, agora causo de bandido vidente, essa eu nunca tinha ouvido!

Foi assim. A minha amiga tinha uma casa na praia e foi passar um fim-de-semana lá com o marido. Bom, todo mundo reclama da falta de segurança que as pessoas que moram em casa têm e parece que na baixada esse tipo de problema é maior ainda. Não é a toa que a maioria das pessoas dão preferência para apartamentos.

E essa minha amiga não teve sorte. Nesse fim de semana um bandido invadiu a casa deles disposto a roubar tudo que fosse possível. Amarrou ela é o marido e com uma cara de maluco ficava perguntando para os dois:

- Onde está o terceiro elemento? Onde está o terceiro elemento?

Só estavam os dois em casa, mas o meliante com os olhos esbugalhados e olhando pra todos os lados como se procurasse alguém, continuava perguntando:

- Cadê o terceiro elemento? Eu to sentindo a presença de um terceiro elemento.

O marido na minha amiga, na maior calma do mundo e claro, morrendo de medo daquele ladrão maluco, respondia pacientemente:

- Moço, não tem terceiro elemento nenhum aqui nessa casa. Só estamos nós dois. Eu juro!

Ela disse que o homem dava medo! Além de ele ser bandido devia ser doido porque ele estava transtornado com a presença do suposto terceiro elemento.

Bom o cara roubou tudo que tinha que roubar e foi embora. Passado o susto eles vieram embora e alguns dias mais tarde ela descobriu que estava grávida!

Olha que coisa! O terceiro elemento a qual o meliante maluco se referia, era o bebê que ela estava esperando.

Ela disse que na época até gostaria de ter encontrado com o bandido maluco novamente e assim sugerir a ele que mudasse de profissão. Com certeza ele ganharia mais dinheiro como sensitivo, do que assaltando casas na baixada que na maioria das vezes são abastecidas com eletrodomésticos velhos. Mas isso infelizmente não aconteceu porque logo em seguida eles venderam essa casa.

E nove meses depois, nasceu o terceiro elemento :)

quinta-feira, novembro 09, 2006




Se você não entendeu nada, vá ler o post abaixo :)

quarta-feira, novembro 08, 2006

Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse -- "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria -- "mas essa história é mesmo muito engraçada!".

trecho de uma crônica do Rubem Braga - Meu ideal seria escrever




Quando eu resolvi criar o namastê, eu não tinha a menor à idéia do que escrever aqui. Eu queria fazer um blog, mas achava a minha vida desinteressante demais pra ser retratada aqui.

O tempo passou e acho que sem perceber eu comecei a fazer aqui, aquilo que eu faço de melhor quando estou na companhia dos meus familiares e amigos. Eu comecei a contar causos engraçados.

Só que ás vezes eu ainda acredito que esteja contando esses causos pra uma rodinha de amigos durante um churrasco de domingo. Só que mesmo nesses churrascos ás vezes existe um vizinho atrás do muro escutando tudo aquilo que a gente esta falando.

E isso também acontece nos blogs. Fica alguém ali escondidinho lendo tudo que você está falando, sem nunca dar um pio! Aí um dia essas pessoas resolvem te mandar um email .

Isso já aconteceu diversas vezes comigo. Eu já recebi emails de pessoas elogiando meus textos e dizendo o quanto são fansdo meu bom humor. Eu sempre duvidei do primeiro elogio, mas confesso que o segundo sempre me encheu de alegria :)

E também não foram poucas as vezes que eu li um recado de alguém aqui me agradecendo por eu ter melhorado seu dia. E cada uma das vezes que eu li um recado desses, vocês podem ter certeza, que fui eu quem ganhou o dia.

Portanto, quando eu li essa crônica do Rubem Braga pela primeira vez, além dela ter se tornado minha crônica favorita, eu também descobri que era isso que eu realmente queria fazer aqui no namastê. E a partir daí comecei a me empenhar mais e mais pra isso.

Bom, todo esse blá blá blá e pra dizer que meus causos (que alguns preferem chamar de crônicas) estão alçando voou e foram parar num livro.

É, agora podem parar de rir porque é verdade. Um dia perguntaram a uma amiga querida se ela conhecia alguém que escrevesse bons textos e ela indicou o namastê. Daí o Nelson veio aqui, leu tudo escondidinho e depois me escreveu convidando para participar de uma antologia com novos autores, e eu num surto de loucura, aceitei. É claro que o incentivo e a participação da minha musa inspiradora no livro também foi fundamental.

Honestamente eu não acho que tenha textos dignos de irem parar num livro. Conheço pessoas que escrevem muito, mas muito melhor do que eu e infelizmente até hoje não tiveram seus livros publicados...

Mas por outro lado, se esses meus causos conseguirem provocar em algumas pessoas a mesma reação daquela moça doente que mora numa casa cinzenta, eu acho que a minha participação nele já terá valido a pena :)

segunda-feira, novembro 06, 2006

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O porta-retrato


Ester acordou cedo no dia seguinte. Demorou um pouco pra se ambientar, mas logo se lembrou de onde estava. Lembrou-se daquele palhaço que esbarrou nela no aeroporto, fazendo com que ela quase perdesse o voou. Lembrou-se das limusines pretas do aeroporto de Toronto e do seu primeiro encontro com a famosa CN Tower, que por três meses seria sua companheira matinal, já que a torre era a primeira coisa que ela via ao abrir as cortinas do quarto. E dando um pulo da cama se lembrou do sumiço do antigo baú da sua amiga Renata!

Ela ficou apavorada porque sabia que dali a algumas horas ela deveria estar no seu local de trabalho. Era seu primeiro dia como au pair e não pegaria bem chegar atrasada, embora esse não fosse o emprego dos seus sonhos. Depois da morte da tia Mariana era a única coisa que restava pra ela fazer. E depois de assistir A mão que balança o berço, concluiu que não tinha mistério nenhum em cuidar de crianças.

Lembrou-se da tia com ternura e de como as duas eram parecidas fisicamente. As duas tinham mais ou menos a mesma idade, e talvez isso justificasse tantos gostos em comum e tantas afinidades... Mas com a morte da tia, sua esperança em entrar para o glamuroso mundo da moda também se desfez.

Resolveu que procuraria pelo baú mais tarde, afinal ela ainda tinha três meses para isso. Correu para o banheiro para se aprontar quando deu um berro, achando que o gato Max tinha se afogado na privada, mas o pobre gato só estava ali matando sua sede matinal.

Enquanto tomava café foi conferir se o seu material psico pedagógico estava na maleta. Achou o CD da Xuxa e seus baixinhos, o dvd da Carla Perez Dançando na boquinha da garrafa, mas não conseguiu achar a coletânea do South Park. Paciência, seu primeiro dia como au pair seria sem a companhia do adorável Cartman e seus amigos.

Max estava todo espichado e dormia no sofá. Mas dele vinha um som estranho, que era muito mais que um ronronar de gatos. Ester se aproximou do bichano e pode jurar que ele sussurrava: Maaaaaamaaaaaaa Cooooooochaaaaaaaaa

Ester se lembrou da carta de Renata que dizia que Max era médium e da tal históra do espírito da Deusa Inca que estava preso dentro do baú e começou a gritar para o gato:

- Saíiiii espírito que esse corpo não te pertence!

Max levou um susto com a gritaria de Ester, e saiu correndo para a cozinha atrás da sua comida, mas diante do seu prato de ração, disse pra si mesmo num tom desolado:

- Ohh não, esqueceram de dizer pra essa maluca que eu só como lasanha!

No caminho para o trabalho, Ester começa ouvir alguém de longe gritando por um nome. Esse alguém gritava insistentemente, o que fazia com que todas as pessoas na rua, dirigissem o olhar em direção dele.

Sim era um homem. E sim, Ester tinha a impressão de conhece lo de algum lugar, só não se lembrava de onde. Ela entrou no ônibus, ele começou a andar e pela vidraça ela via que o rapaz corria em direção deles. Será que a pessoa com quem ele queria falar estaria ali dentro?

Enquanto tomava um chá sentada na sala de estar, esperando pelo pai das crianças que ela iria cuidar, um porta retrato grande com a foto de uma mulher sobre a lareira chama sua atenção.

Ela se levanta e vai até lá para ver melhor o rosto dessa mulher. Ela deixa a xícara cair no chão ao ver que aquela mulher era sua tia Mariana. Neste mesmo instante, um homem de cabelos grisalhos entra na sala.

Este é o quarto capítulo da blognovela: Ester, uma au pair.

O primeiro capítulo encontra-se no blog mãe, da Ana Lúcia

O segundo com a Vanessa, no Inconfidência Mineira

E o terceiro no Brogui do Serbão.

O quinto vai para Leila, do Stuck in Sac

Que Páginas da Vida o quê !!! Acompanhe a saga de Ester, uma au pair, que vocês não irão se arrepender :)